Ele gostava de sentar em um caixote de madeira que ficava à porta do boteco, perto da faculdade. A qualquer hora que chegássemos lá, lá estava o Quim e seu baralho. Dizia entender tudo de jogos de cartas e tinha a maior intimidade com os reis, rainhas, valetes e ases. Seus dedos ágeis faziam surgir e desaparecer uma carta com uma rapidez impressionante. E faziam mesmo... com a mesma rapidez que colocava no bolso o dinheirinho dado pela plateia entusiasmada e pela camaradagem estabelecida com alguns estudantes e professores. Um dia, dois rapazes novos na faculdade, no auge da excitação da novidade e do desejo em deixar bem claro para que vieram, desafiaram Quim para um jogo de pôquer. O mendigo, muito calmo, olhou para eles e lentamente, com seriedade em sua voz, perguntou se eles tinham consciência do que estavam propondo. A resposta foi um muxoxo, a reação de desdém e a alegação de que ele estava com medo de perder. Para eles, tudo não passava de bravatas de um mendigo ignorante.
Educar é semear com sabedoria e colher com paciência. (Augusto Cury)