Flavio de Souza* Era uma vez uma bordadeira chamada Filomena que vivia com dores em seus dez dedos das mãos e em seus dois olhos. Porque desde a hora em que acordava até a hora em que se deitava para dormir, ela bordava, bordava, bordava, bordava, bordava, bordava, bordava, bordava. Só não bordava enquanto comia, quando ia à igreja e enquanto fazia aquelas coisas que todo mundo faz no banheiro. Isso acontecia porque ela bordava muito bem. Bordava tão bem, que todas as princesas daquela parte do mundo queriam ter vestidos e blusas e casaquinhos e lenços e saias e xales e até sapatos com bordados feitos pela Filomena. Ela vivia tão cansada que já tinha esquecido da última vez que tinha sorrido. De quando tinha dado uma risada, então, nem se fala. Gargalhada? A última que saiu de dentro dela foi quando ela ainda era uma menininha. Quando se aproximou a data do aniversário da princesa do reino onde ela morava, a bordadeira foi mais requisitada que nunca, e suas mãos doeram como nunca, e