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PROJETO DE ENSINO E APRENDIZAGEM – PLANO DE AULA



TEMÁTICA: Comparando diferentes versões de Chapeuzinho Vermelho

MODALIDADE DE ENSINO: Ensino Fundamental

ATIVIDADES PERMANENTES





As teorias que se baseiam em processos cognitivos - ou seja, atividades mentais de como pensar, imaginar, relembrar e solucionar problemas - também tem sido tema de pesquisas na área de ciência da informação, investigando como esses processos podem se relacionar com o comportamento de busca de informação.

Por meio do trabalho com o conto do Chapeuzinho Vermelho, a intenção é desenvolver modelos que demonstrem como o sujeito apreende a informação apresentada, interpreta o que apreendeu comparando com o conhecimento existente na memória e, então, toma decisões e resolve problemas. Tais estudos têm produzido resultados e propiciado o desenvolvimento de várias teses sobre a ação leitura, mas lacunas substanciais ainda persistem. Esse é o diagnóstico de Allen (1991), que relata vários estudos que se estão desenvolvendo sob essa perspectiva. 

Devido ao fato de, atualmente, os trabalhos sobre leitura serem expressivamente numerosos, é quase impossível reunir e selecionar o conhecimento exaustivo sobre os mesmos. Além disso, os problemas tratados pelos pesquisadores são tão específicos, que o objeto leitura não define nem o conteúdo, nem a metodologia. 

Dessa característica nasce a necessidade de práticas multidisciplinares, pois não é mais possível delimitar o campo de estudo da leitura e da literatura.

Várias disciplinas interagem para delinear a temática da leitura e integram um quadro teórico interpretativo de conjunto. Segundo Chartier (1995), 

Disciplina: Língua escrita

Conteúdo: Comparando diferentes versões de Chapeuzinho Vermelho

Informações:

A presença regular de situações em que o professor lê livros de literatura para a turma é recomendável por uma série de motivos. Ao ter contato com essas obras, a criança pode apreciar a leitura; aproximar-se da linguagem desses textos; reconhecer características do portador; inteirar-se sobre o autor e identificar-se com personagens, além de construir critérios pessoais de escolha de suas histórias preferidas para compartilhá-las com outros leitores.

Atividades

• Bebeteca ou biblioteca: lugar de pequenos leitores 

• Prática de leitura

• Leitura simultânea de contos

• Comparando versões de Pinóquio

Ao lado de outras modalidades organizativas dos conteúdos de leitura e escrita - como os projetos didáticos e as atividades permanentes essa seqüência pretende contribuir para a valorização da leitura de textos literários de qualidade e o desenvolvimento do gosto pessoal do leitor. Com a sua realização, as crianças serão colocadas, desde o início da escolaridade, no lugar de leitores que interagem e pensam sobre a linguagem que se escreve, tendo o professor como um modelo de leitor que os auxiliará nessa conquista. 

A escolha do conto Chapeuzinho Vermelho

Chapeuzinho Vermelho é uma das narrativas de referência entre os clássicos infantis. De tradição oral, foi publicada pela primeira vez no ano de 1697, pelo escritor francês Charles Perrault. Desde então, o conto é apresentado em diferentes versões, traduções e adaptações, que têm marcado a infância das crianças nos mais diferentes países e épocas. Uma das versões mais conhecidas e traduzidas, inclusive para o português, foi escrita em 1812 pelos Irmãos Grimm. 

Nesta seqüência de atividades, as crianças serão convidadas a comparar três diferentes versões do conto, que serão lidas pelo professor dentro de um intervalo de tempo. A escolha das três tem como critério a garantia da qualidade literária. Dentre elas, estão duas das principais: de Grimm e Perrault.

Essa seleção visa garantir a comparação entre as tramas e a análise dos recursos lingüísticos utilizados pelos autores. A comparação de versões de um mesmo texto consiste em uma prática usual do leitor. Ela permite estabelecer critérios de escolha de uma leitura e realizar indicações literárias. 

Neste trabalho, as comparações serão inicialmente coordenadas pelo professor, que fará intervenções para os alunos atentarem para outros aspectos da obra além dos que normalmente levam em conta. 

O professor também irá destacar recursos lingüísticos utilizados pelo autor, tradutor ou adaptação.

A leitura pelo professor

Quando o professor lê para as crianças, mostra-lhes seu próprio comportamento leitor e contribui para que se familiarizem com o universo letrado. Por isso, é fundamental que ele prepare sua leitura ensaiando em voz alta, planejando intervenções para fazer antes, durante ou depois da leitura, antecipando a organização do espaço e a disposição das crianças, e, ainda, determinando o momento estratégico em que interromperá a leitura (para continuar num momento seguinte). 

Ao trazer um material para ler para a classe, o professor também cuida da apresentação adequada do livro, oferece informações que servem para contextualizar a obra e despertar o interesse em conhecê-la e justifica a escolha feita.

Durante a leitura, ao fazer uma interrupção, o professor pode retomar os fatos anteriores para que as crianças não percam a seqüência narrativa. Pode-se solicitar a elas que procurem se lembrar dos últimos acontecimentos e os relatem de forma organizada. Cada uma conta aos colegas sua lembrança e, assim, o grupo vai reconstruindo a narrativa que acabou de conhecer. O professor ajuda, recontando passagens. Quando surgirem dúvidas sobre algum episódio, pode-se recorrer ao livro para esclarecê-las por meio da leitura do trecho a que se referem. 

O professor compartilha com as crianças seu comportamento leitor (explicitando diferentes aspectos do que faz enquanto lê). Por exemplo, nas duas primeiras versões, dois procedimentos usuais, próprios de leitores experientes, poderão ser destacados: o uso do índice e do marcador de livro, já que os contos selecionados fazem parte de uma coletânea.

É preciso também assegurar um espaço para que a turma se manifeste a respeito do texto lido, dialogue com ele, dando-lhe, coletivamente, um sentido. Isso pode ser feito por meio de uma conversa em que cada ouvinte compartilha com os demais aquilo que desejar: as lembranças; os sentimentos e experiências suscitadas durante a leitura; os trechos mais marcantes; uma característica do texto que tenha reparado; uma dúvida ocorrida; uma hipótese confirmada ou não durante a leitura, etc. O professor se coloca como participante ativo da conversa, compartilhando suas impressões sobre o que leu, sobre relações com outros textos conhecidos pelo grupo ou com outros fatos.

Ao ouvir as opiniões das crianças, o professor possivelmente irá deparar com diferentes 

interpretações do que foi lido. Isso deve ser respeitado, porque, nesse caso, não há respostas corretas ou incorretas. Como todos os textos literários, a história de Chapeuzinho Vermelho permite ao leitor criar algumas interpretações enquanto lê. Nessas conversas com as crianças, o professor pode ter como foco aspectos retóricos do texto. 

Prestando atenção neles, o grupo poderá perceber que, por meio da forma pela qual os acontecimentos são narrados, o autor direciona a interpretação sobre determinadas passagens. Por exemplo: pode-se perguntar às crianças se elas acham que o lobo está tentando enganar Chapeuzinho, e chamar a atenção para a forma como o autor descreve suas falas e intenções.

É importante salientar que mesmo que o conto trate de questões ligadas à moralidade, não é aconselhável utilizar sua leitura como um pretexto para oferecer às crianças lições de moral, nem tampouco para impor a opinião do professor sobre, por exemplo, as atitudes da personagem principal. 

O foco desta atividade é voltar-se para o texto em si, para que as crianças possam se aproximar da linguagem escrita e desenvolvam comportamentos de leitor.

Objetivos 

Valorização da leitura de textos literários de qualidade. 

Desenvolvimento do gosto pessoal e de critérios de escolha de suas histórias preferidas para compartilhá-las com outros leitores.

Série: Ensino Infantil e 1º e 2º Ano do Ensino Fundamental

Tempo estimado: 2 meses ou conforme a necessidade do professor.

Material: Três versões diferentes da história de Chapeuzinho Vermelho, sendo que a primeira deve ser dos irmãos Grimm e a segunda de Charles Perrault. 

Desenvolvimento 

As situações que compõem a seqüência são as seguintes: 

Leitura (feita pelo professor à classe) de uma boa versão da história para exploração dos aspectos lingüísticos característicos dos contos. 

Leitura (feita pelo professor à classe) de uma segunda versão para possíveis comparações entre as versões lidas e análise de diferentes tramas e linguagens dos contos e autores.

Leitura (feita pelo professor à classe), de uma terceira versão do conto.

Além de contribuir para a aprendizagem de comportamentos leitores, as leituras feitas nesta seqüência de atividades implicarão certos comportamentos específicos que poderão ser postos em prática, como: 

Comentar o que se leu.

Compartilhar com outros os efeitos, sensações, sentimentos que os textos produzem. 

Confrontar interpretações e pontos de vista.

Relacionar o conteúdo de um texto com os de outros conhecidos.

Reparar na beleza de certas expressões ou fragmentos de um texto.

Ler durante um período, interrompendo a leitura quando necessário.

Localizar o lugar em que a leitura foi interrompida.

Recordar os últimos acontecimentos narrados, por meio da leitura de alguns parágrafos anteriores. 

Antecipar o que segue no texto e controlar as antecipações de acordo com o desenrolar da narrativa

Adequar a modalidade de leitura aos propósitos que se perseguem. 

Recuar no texto para recuperar aspectos relevantes e, assim, compreender melhor uma situação ou, ainda, para dar mais atenção a uma informação importante.

Comparar as personagens, ambientes e situações das diferentes versões.

Comparar as narrativas lidas com outros textos do gênero, outros autores etc.

Reconhecer certos recursos lingüísticos próprios de um autor, uma versão.

Identificar recursos lingüísticos adequados a determinadas situações comunicativas ou intenções do escritor.

ATIVIDADE 1 – Data ...../,,,,,/,,,,,

Leitura da primeira versão da história Irmãos Grimm 

Logo ao iniciar a seqüência, o professor comunica às crianças qual será o procedimento a ser seguido por ele e por seus ouvintes, de forma a assegurar que a narrativa seja compreendida e apreciada. Ele informa que lerá outras versões da mesma história, compartilhando com a turma como será realizado o trabalho

A primeira etapa da seqüência consiste na leitura pelo professor da primeira versão da obra 

escolhida. É importante, nesse momento, considerar as orientações anteriores, em relação ao preparo prévio da leitura e das intervenções a serem realizadas durante a atividade. 

A história é curta e pode ser lida de uma única vez. Se houver mais de um exemplar do livro na escola, ele pode ser disponibilizado na sala de aula para que as crianças os manuseiem, apreciem as ilustrações e leiam no próprio texto, mesmo sem saber ler convencionalmente. 

Após a leitura, quando o professor estiver certo de que as crianças já comentaram a respeito de tudo o que gostariam, ele coordena uma atividade para propor a análise de recursos lingüísticos que tornam a obra singular e atraente para o leitor. Pode, inclusive, realizar um registro das conclusões do grupo acerca de suas principais características o que será útil nas etapas seguintes da seqüência.

Um recurso que pode ser destacado da primeira versão lida são as descrições das personagens e cenários. Caso tais características não tenham sido notadas pelas crianças, o professor pode chamar a atenção para elas, relendo algumas descrições e conversando sobre a linguagem literária e os efeitos que ela produz no leitor.

Como o autor descreve o lobo no início da história, como ela estava? (faminto).

Quais foram os recursos utilizados pelo autor para descrever a floresta?

O que o lobo diz à Chapeuzinho quando eles se encontram pela primeira vez?

O que o lobo usou para fingir ser a avó da menina?

Como o autor descreve a localização da casa da avó?

O que fez Chapeuzinho perceber que a avó estava com um aspecto muito esquisito?

ATIVIDADE 2 – Data...../,,,,,/,,,,,

Leitura da segunda versão da história Charles Perrault 

As histórias escritas pelos irmãos Grimm defendem valores como a bondade, o trabalho e a 

verdade. Em seus contos, as pessoas bondosas são premiadas e as maldosas são castigadas. Nem sempre isso ocorre na vida real, mas, na literatura destes autores, quem merece sempre ganha um final feliz. Já nesta versão de Charles Perrault, o desfecho da história é um pouco diferente. Chapeuzinho não tem um final feliz, pois acaba devorada pelo lobo, assim como sua avó.

Na segunda etapa da seqüência o professor realiza a leitura desta versão. Assim como na primeira etapa, as orientações para o seu encaminhamento são as descritas anteriormente no item "A leitura pelo professor".

Quando a leitura estiver concluída, o professor propõe a comparação entre as duas versões, retomando as características destacadas na análise registrada anteriormente. Nesse momento, o professor pode também registrar as conclusões das crianças a respeito das características das duas versões, relendo trechos e chamando a atenção para as semelhanças e diferenças na trama e no texto.

O que acontece no primeiro encontro entre a menina e o lobo numa versão e em outra?

Como é o diálogo entre eles em cada uma das versões?

Vamos comparar as diferentes descrições sobre a localização da casa da vovó?

Vamos ver como os autores descreveram a Chapeuzinho em cada uma das versões?

Quais são os diferentes acontecimentos que chamam a atenção e distraem Chapeuzinho Vermelho a caminho da casa de sua avó?

As recomendações da mãe no início da história são diferentes nas duas versões?

Que fim levou o lobo nas duas versões?

ATIVIDADE 3 - – Data ...../,,,,,/,,,,,

Leitura da terceira versão da história 

Nesta última etapa da seqüência o professor encaminha a leitura de uma terceira versão do conto. Assim que o grupo se familiarizar com a nova versão, deve ser incentivado a conversar sobre ela. É quase certo que estabelecerão, espontaneamente, relações comparativas com as duas outras versões já trabalhadas, identificando semelhanças e diferenças. Mesmo assim, o professor pode focar suas observações em outros aspectos, voltando, com as crianças, aos registros feitos anteriormente.

Nesta terceira versão, do ponto de vista do conteúdo da história, ao invés de comer a avó o lobo a tranca dentro do armário e também não chega a comer Chapeuzinho, que pede ajuda e é socorrida pelos caçadores da floresta. Além desta diferença evidente na trama, o professor poderá continuar discutindo aspectos formais do texto, ao propor um levantamento dos fatos que se conservaram nas três versões e das diferenças no texto escrito, destacando o estilo de cada autor/tradutor/adaptação.

Exemplos de questões que podem disparar essa análise: 

A mamãe pede para Chapeuzinho Vermelho levar comida à vovó. O que diz a mãe agora, nesta terceira versão? 

Chapeuzinho Vermelho se encontra com o lobo no bosque. Como cada autor relata o diálogo entre eles? 

Chapeuzinho caminha pela floresta - como este cenário é descrito, o que há em cada um dos textos? 

O lobo engana Chapeuzinho Vermelho e chega antes dela à casa da vovó. O que diz a ela para enganá-la nessa versão? 

Quando chega, Chapeuzinho Vermelho faz perguntas ao lobo, que está deitado na cama da 

vovó. Há diferenças nas perguntas e respostas deste diálogo em comparação com as outras 

versões? 

O que acontece na história assim que o lobo chega na casa da vovó? Quais as principais 

diferenças? 

Avaliação 

O professor pode acompanhar a ampliação das aprendizagens das crianças nesta seqüência, nas demais situações de leitura e produção de texto propostas em sua rotina. É importante que elas continuem refletindo sobre os aspectos característicos da linguagem dos contos clássicos, comparem essa linguagem com a de outros gêneros, utilizem esse conhecimento em suas próprias produções textuais etc. 

Um trabalho semelhante ao desenvolvido nessa seqüência também pode ser realizado com diferentes versões de outros contos, como João e Maria, Branca de Neve, A Bela Adormecida e O Gato de Botas, entre outros.

Referências Bibliográficas 

ALLEN, B. L. Cognitive research in information science: implications for design. Annual Review of Information, Science and Technology, Medford, v.26, p.3-37, 1991.

CHARTIER, A. M. Leitura escolar: entre pedagogia e sociologia. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.0, p.17-52, set./dez. 1995.
Creditos á Simone Helen Drumond de Carvalho

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